08/01/2012

Verdade ou Ficção / Outra História da "Francesinha"

"(...)Aparentemente, o criador do prato, Daniel David Silva, era “bastante mulherengo”.
Depois de um périplo internacional, aterrou no Porto e descobriu que as mulheres eram demasiado discretas para o que estava habituado, andando muito tapadas e sendo muito reservadas.
A desilusão com as mulheres portuenses levou-o, segundo Graça Lacerda, a querer criar um prato “apurado”.
“Ele dizia que a mulher mais picante que conhecia era a francesa. Quis dar um toque picante ao prato e chamou-lhe francesinha”, disse.
O petisco, que nos anos 50 era uma comida fora de horas - um lanche reforçado ou uma merenda depois de uma sessão de cinema tardia - estava conotado com o universo masculino.
“Ainda sou do tempo em que a francesinha era vista como um prato para rapazes solteiros. As raparigas que comiam francesinha eram mal vistas”, recordou.
Os tempos mudaram e com ele os preconceitos relativos à francesinha e até a sua própria “fisionomia”: um petisco que era pouco mais do que uma tosta mista com molho tornou-se num parto mais do que sustentado, para responder à evolução da sociedade.
“Hoje em dia, já não temos tempo para o lanche e as sessões de cinema proliferam. A francesinha passou a ser um prato de almoço ou jantar, ao qual se juntou a batata frita”, explicou Graça Lacerda, que se tornou especialista na matéria depois de longas pesquisas.(...)



Mais dados:


Receita da Francesinha
 
Ingredientes:

Para o molho
1 cerveja
1 caldo de carne (knorr)
2 folhas de louro
1 colher de (sopa) de margarina
1 calice de Brandy ou Porto
1 colher de (sopa) de maizena
2 colheres de (sopa) de polpa de tomate
1/2 copo ( +- 1dl ) de leite
piri-piri q.b.

Para a francesinha2 fatias de pão de forma
fiambre q.b.
queijo q.b.
salsichas q.b.
linguiça q.b.
carne assada ou bife q.b.
 
CONFECÇÃO:

Para o molho
Dissolver bem a maizena com o leite juntar os restantes ingredientes e com a varinha mágica triturar, levar ao lume até ferver e engrossar um pouco mexendo para não pegar.

Para a francesinhaFazer uma sandes com os ingredientes cobrir com queijo, colocar no centro de um prato e regar com o molho, e levar ao forno a gratinar.


Gastronomia do Porto

É entre Douro e Minho, gene da nacionalidade portuguesa, que se situa o Porto, com muitas tradições culturais entre as quais destacamos uma que lhe é reconhecida como importante e geradora de interesse para quem nos visita - a gastronomia. Quando se fala do Porto é imperativo falar de alguns pratos tradicionais entre os quais se destacam, pela sua história, as Tripas à moda do Porto, prato que dá o nome aos habitantes da urbe - Tripeiros - aqueles que comem tripas. Este prato, celebrizado não tanto pela confecção (dobrada de vitela com enchidos e feijão branco) mas mais pela atitude de dádiva das gentes do Porto que, em altura de crise, se disponibilizaram a dar toda a carne para as embarcações que partiam à conquista das praças do norte de África, ficando apenas com as tripas dos animais para seu sustento, é hoje o ex-líbris da gastronomia portuense. Mais que uma receita, este prato representa uma atitude bem presente no espírito das gentes do Norte: dádiva, sacrifício, disponibilidade e hospitalidade.
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Caldo Verde
Broa
Bacalhau à Gomes de Sá
Receita original
Cabrito Assado
Tripas à moda do Porto
Francesinha
Papos de Anjos
Pão de ló
Biscoito da Teixeira
Vinho do Porto

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Do Porto destacamos os pratos de bacalhau e de carne e uma doçaria secular de grande sabor e riqueza. Comer à moda do Porto é comer em abundância, qualidade e com grande requinte, sempre em mesas bem decoradas onde imperam as pratas dos nossos ourives, sobre toalhas de linho bordadas.



*Caldo Verde
O caldo verde está sempre presente nas ementas do Porto e da região minhota. Este caldo de batatas e couve verde de folha larga cortada finamente e regada com um fio de azeite é referenciado em vários livros de Camilo Castelo Branco como alimento matinal. Devido à sua simplicidade e leveza come-se sempre no início da refeição ou numa ceia tardia.

*Broa
O pão do norte é a Broa, feita de milho umas vezes branco outras amarelo, com mais ou menos centeio. É o acompanhamento das sardinhas assadas ou fritas, de pratos de bacalhau ou do caldo verde. O milho, outrora trazido do continente americano, depressa entrou nos nossos hábitos alimentares devido ao seu fácil cultivo e por ser mais saboroso do que o centeio com que se fazia o pão até então.

*Bacalhau à Gomes de Sá
Gomes de Sá era um comerciante do Porto nos finais do Séc. XIX. A ele se deve esta receita de bacalhau que, segundo a lenda, terá sido criada com os mesmos ingredientes (à excepção do leite) com que semanalmente fazia os bolinhos de bacalhau que deliciavam os amigos. Com efeito, os ingredientes são os mesmos, mas a receita resulta de uma confecção cuidada e de grande requinte. A receita que se segue é retirada de um manuscrito atribuído ao próprio Gomes de Sá que terá dado a receita a um seu amigo, João, com a deliciosa nota: "João se alterar qualquer cousa já não fica capaz"


Receita original“Pega-se no bacalhau demolhado e deita-se numa caçarola. Depois cobre-se tudo com água a ferver e depois tapa-se com uma baeta grossa ou um pedaço de cobertor e deixa-se então assim sem ferver durante 20 minutos. A seguir, ao bacalhau que está na caçarola e que devem ser 2 quilos pesados em cru, tiram-se-lhe todas as espinhas e faz-se em lascas e põe-se num prato fundo cobrindo-se com leite quente, deixando-o em infusão durante uma hora e meia a duas horas.
Depois em uma travessa de ir ao forno, deita-se três decilitros de azeite fino do mais fino (isto é essencial), quatro dentes de alho e oito cebolas alourar. Ter já dois quilos de batatas (cortadas à parte com casca) às quais se lhes tira a pele e se cortam às rodelas da grossura de um centímetro e bota-se as batatas mais as lascas do bacalhau que se retiram do leite. Põe-se então na mesma travessa no forno, deixando-se ferver tudo por dez a quinze minutos. Serve-se na mesma travessa com azeitonas grandes pretas, muito boas e mais um ramo de salsa muito picada e rodelas de ovo cozido. Deve-se servir bem quente, muito quente.”

*Cabrito Assado
Talvez por São João ser representado sempre com o cordeiro aos pés, numa alusão ao cordeiro de Deus, talvez por nesta altura do ano ser mais abundante esta carne, o que é certo é que não há festa ao São João sem um anho assado no forno ou cabritinho, sempre acompanhados por batatinhas novas, arroz de forno com enchidos e miudezas e grelos salteados. É também o prato tradicional da Páscoa - uma alusão sem dúvida bíblica e de tradição judaica - mantendo a receita mas com tenro cabritinho.

*Tripas à moda do Porto
O prato que dá o nome às gentes do Porto tem uma longa história. Embora existam várias receitas de tripas, como as de Caen, Lyonaises ou os callos à Madrileña, nenhuma assumiu um enquadramento histórico como as do Porto. A versão mais popular da lenda/história e que tem mais defensores e suporte histórico tem origem na grande aventura das Descobertas em que um filho da terra, o Infante Dom Henrique, precisando de carne para abastecer as suas caravelas para a conquista de Ceuta terá pedido ao povo ajuda no fornecimento das embarcações para tão grande empresa. O povo do Porto acorreu ao chamamento do seu Príncipe e logo encheu na quantidade necessária as barricas de madeira com carne salgada, ficando com as tripas que cozinharam em estufado grosso com enchidos e carne gorda, acompanhado na altura com grossas fatias de pão escuro. Mais tarde foi adicionado o feijão branco, conquista da descoberta de novos mundos, que também teve origem no mesmo senhor que encheu de carne os porões das suas caravelas. O prato ficou para a História de uma cidade que se revê não só nesta iguaria suculenta de aromas de cominhos e pimenta preta, adubada com enchidos de fumeiros caseiros e galinha gorda, mas sobretudo no gesto de entrega num dos momentos altos da nação portuguesa.




*Francesinha
Iguaria das noites do Porto, do fora de horas ou da refeição rápida, esta receita nasce na cidade nos anos sessenta numa inovação do croque-monsieur que um emigrante tantas vezes fizera em França, onde trabalhava. A sua forma abundante na quantidade e na diversidade dos artigos que a acompanham, adubada com um molho de marisco picante, veio de facto ao encontro das gentes do Porto que gostam de comidas com sabores carregados e de bom sustento. É, pois, um prato jovem, de convívio, grande na porção, quente no palato, inventivo na receita.





*Papos de Anjos
Muitos eram os conventos que existiam no Porto e que deram a conhecer receitas de doces que faziam a ainda fazem a delícia da mesa desta cidade, que tem sempre como apoteose de um repasto, uns docinhos de ovos. Pertencente à diocese do Porto, o convento de Amarante é conhecido, para além da sua arquitectura, pelos seus papos de anjo, queijinhos de São Gonçalo, lérias e foguetes. Na mesma diocese, o convento das Clarissas de Vila do Conde guardava uma receita de sopa doce. Mesmo no centro da cidade são famosas as trouxas de ovos do Convento da Avé Maria, local que deu lugar à estação de São Bento. O pudim de gemas e vinho do Porto é também um dos inúmeros doces que fazem parte da nossa tradição gastronómica. Muito doce, é todavia cortado pelo cálice de bom vinho do Porto que o deve acompanhar.

*Pão de ló
É no Porto que este doce encontra a sua expressão máxima. A Casa Margaridense, na Travessa de Cedofeita, confecciona-o como ninguém. Trata-se de um bolo fofo e leve que se come durante todo o ano mas que tem maior consumo na Páscoa. É um óptimo acompanhamento para o vinho do Porto e é muitas vezes o pão para acompanhar o queijo da serra no Natal. Todos os pretextos são válidos para degustar este doce, tido como um manjar dos deuses.

*Biscoito da Teixeira
Nas feiras e romarias é sempre possível encontrar este doce, de consistência dura, cor escura devido ao açúcar e gosto suave a açafrão. Está sempre presente em todas as romarias de entre Douro e Minho, conhecido por muitos pelo nome de intruso ou metediço. É apreciado sobretudo pelos mais velhos que o recordam das ancestrais festas religiosas que durante muitos anos eram a única animação cultural. Ainda hoje nas festas de Nossa Senhora da Lapa, São Lázaro e Senhora da Saúde se encontra o doce da Teixeira.

*Vinho do Porto
O Vinho do Porto é um vinho licoroso, produzido unicamente na Região Demarcada do Douro, distinguindo-se dos vinhos comuns pelas suas características particulares: uma enorme diversidade de tipos em que surpreende uma riqueza e intensidade de aroma incomparáveis, uma persistência muito elevada quer de aroma quer de sabor, numa vasta gama de doçuras e grande diversidade de cores. Usualmente o Vinho do Porto é resultado da junção de vinhos de diferentes anos. Com esta lotação pretende-se que a qualidade do Vinho do Porto se mantenha estável ao longo do tempo. São exemplos deste tipo de vinhos os Tawny com indicação de idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e mais de 40 anos). Existem, no entanto, Vinhos do Porto de uma só colheita como é o caso dos Vintage, LBV e Colheita. Ao contrário dos vinhos de lote é possível apreciar as características do ano neste tipo de vinhos.


Fonte de informação
Porto Turismo
 Site Oficial de Turismo do Porto



Ancient Oporto



O Porto, O TE é uma cidade portuguesa situada no noroeste da Península Ibérica, sede do município homónimo com 41,66 km² de área, tendo uma população de 237.584 habitantes (2011)[1]. A cidade é considerada uma cidade global gama[2], sendo a capital do Distrito de Porto, da Área Metropolitana do Porto e da região estatística do Norte, sub-região do Grande Porto. A cidade metrópole, constituída pelos municípios adjacentes que formam entre si um único aglomerado urbano, conta com cerca de 1.286.276 habitantes[1], o que a torna a maior do noroeste peninsular e a segunda maior de Portugal, após a Grande Lisboa.
A cidade do Porto é conhecida como a Cidade Invicta. É a cidade que deu o nome a Portugal – desde muito cedo (c. 200 a.C.), quando se designava de Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense. É ainda uma cidade conhecida mundialmente pelo seu vinho, pelas suas pontes e arquitectura contemporânea e antiga, o seu centro histórico, classificado como Património Mundial pela UNESCO, e pelo seu clube de futebol, o Futebol Clube do Porto.
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Tem origem num povoado pré-romano. Na época romana designava-se Cale ou Portus Cale, sendo a origem do nome de Portugal. No ano de 868, Vímara Peres, fundador da terra portugalense, teve uma importante contribuição na conquista do território aos Mouros, restaurando assim a cidade de Portucale.
Em 1111, D. Teresa, mãe do futuro primeiro rei de Portugal, concedeu ao bispo D. Hugo o couto do Porto. Das armas da cidade faz parte a imagem de Nossa Senhora. Daí o facto de o Porto ser também conhecido por "cidade da Virgem", epítetos a que se devem juntar os de "Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta", que lhe foram sendo atribuídos ao longo dos séculos e na sequência de feitos valorosos dos seus habitantes, e que foram ratificados por decreto de D. Maria II de Portugal.
Foi dentro dos seus muros que se efectuou o casamento do rei D. João I com a princesa inglesa D. Filipa de Lencastre. A cidade orgulha-se de ter sido o berço do infante D. Henrique, o navegador.
Devido aos sacrifícios que fizeram para apoiar a preparação da armada que partiu, em 1415, para a conquista de Ceuta, tendo a população do Porto oferecido aos expedicionários toda a carne disponível, ficando apenas com as tripas para a alimentação, tendo com elas confeccionado um prato saboroso que hoje é menu obrigatório em qualquer restaurante. Os naturais do Porto ganharam a alcunha de "tripeiros", uma expressão mais carinhosa que pejorativa. É também esta a razão pela qual o prato tradicional da cidade ainda é, hoje em dia, as "Tripas à moda do Porto". Existe uma confraria especialmente dedicada a este prato típico .
Desempenhou um papel fundamental na defesa dos ideais do liberalismo nas batalhas do século XIX. Aliás, a coragem com que suportou o cerco das tropas miguelistas durante a guerra civil de 1832-34 e os feitos valerosos cometidos pelos seus habitantes — o famoso Cerco do Porto — valeram-lhe mesmo a atribuição, pela rainha D. Maria II, do título — único entre as demais cidades de Portugal — de Invicta Cidade do Porto (ainda hoje presente no listel das suas armas), donde o epíteto com que é frequentemente mencionada por antonomásia - a «Invicta». Alberga numa das suas muitas igrejas - a da Lapa - o coração de D. Pedro IV de Portugal, que o ofereceu à população da cidade em homenagem ao contributo dado pelos seus habitantes à causa liberal.
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O Porto tem um clima mediterrânico do tipo Csb de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger.[4][5] No Inverno as temperaturas variam entre os 5 °C e os 14 °C raramente descendo abaixo dos 0 °C. Nesta estação o tempo tende a ser instável com ocorrência de chuva e vento forte apesar de longos períodos com Sol e tempo seco serem também comuns. No Verão as temperaturas variam entre os 14 °C e os 27 °C podendo chegar aos 40 °C durante os fins de Julho e início de Agosto, sendo esta temperatura mais frequente aquando de uma onda de calor, comuns em Portugal. O tempo seco e soalheiro pode ser interrompido por dias nebulosos ou de chuva.[6][7] A baixa amplitude térmica deve-se à proximidade do oceano e presença da corrente quente do Golfo.
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Matosinhos-Leça
Ponte sobre o Rio Leça
circa 1911












Eléctrico na praia de Leça da Palmeira
Tradições de Leça da Palmeira

"Leça da Palmeira, uma cidade à beira-mar plantada desde antiquíssimos tempos tinha o seu modo de viver muito ligado à vida rural, nomeadamente ao calendário do homem do campo.
O lavrador leceiro cumpria religiosa e silenciosamente o seu paciente labor quotidiano ao ritmo que a própria natureza lhe impunha, só descansando um ou outro dia de festa, se isso lhe fosse permitido. Por vezes nem domingos havia!
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De Janeiro a Dezembro vivia para o trabalho, relacionando muitos deles com as suas actividades tal como sucede com os meses de: Junho, o S. João; Julho, o de S. Tiago; Setembro, o de S. Miguel; Outubro, o dos Santos, Novembro o de Santo André, ou das sementeiras; e o de Dezembro, o do Natal ou o mês das matanças, por ser a época em que se mata o porco.
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A indicação dos meses fazia-se por uma simples festa ou de qualquer acontecimento.
As estações do ano dividiam unicamente, em meses de Verão e meses de Inverno.
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No inicio do mês de Janeiro era hábito grupos percorrerem as ruas acompanhados por música de um ou outro instrumento musical, indo de porta em porta cantar as janeiras.
Se o dono da casa correspondia abrindo-lhes a porta, cantavam-lhe:
“Viva o dono desta casa / Raminho de salsa crua / Quando se põe á janela / Ilumina toda a rua”. “Viva a dona desta casa / Quando põe o seu mantéu / Quando vaia para a igreja / Parece um anjo do céu. Viva tudo, Viva tudo / Viva tudo nesta hora / Viva também o menino / Para não ficar de fora”
Caso isso não acontecesse, gritavam:
 “nesta casa cheira a unto aqui mora algum defunto. Esta casa cheira a breu aqui, morreu algum judeu”
E… toca a fugir!
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Em Fevereiro, dizia-se: “Que matou a mãe ao soalheiro”, e também que: “Lá virá o meu amigo Março que fará o que eu não faço”; tudo isto, claro, relacionado com o tempo de sol e chuva que fazia. Era o mês do Carnaval ou Entrudo, época em que as pessoas se entretiam, disfarçando-se com roupas velhas “correndo o entrudo ou o farrapão”, metendo-se com quem passava, usando esfregarem as caras, mutuamente, com farinha e previlhos. Embora actualmente escasseiem os farrapões, há os mascarados, sendo os encontros em modernos bailes em recintos fechados, estando em decadência o Carnaval grotesco vivido na rua.
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Em Março, “em que tanto durmo como faço” ou em Abril de “águas mil, coadas por um funil” ou em que “queima-se o carro e o carril”, ocorria a Páscoa com todo o seu tempo de preparação, com as Procissões dos Passos, a queima do Judas em que é escolhida uma pessoa da comunidade para ser caricaturizado, representada por um boneco de palha com bombas no seu interior ao qual é chegado o fogo após ser lido em tom jocoso o seu “Testamento”, em verso, e a Visita Pascal; e com a chegada do último dia do mês é tradição, os leceiros, grandes e pequenos, cortarem as maias nos campos próximos para as colocar nas suas casas, em todas as portas, janelas e até nos quintais, sementeiras e aidos do gado e capoeiros.
Diz a crença popular que as maias, isto é, as flores da giesta, colocadas nas habitações, significam os sinais postos ao longo do caminho para que Nossa Senhora não se enganasse, aquando da sua fuga para o Egipto com o Menino Deus.
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Casa que não tinha maias colocadas ao entrar o mês de Maio “em que se comem as cerejas ao borralho”, o Diabo sujará tudo, além de outros estragos.
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O mês de Junho, “com foucinha em punho” traz-nos os Santos Populares com todos os seus folguedos, as fogueiras e os bailes de rua que atingindo o seu ponto máximo no S. João, apesar de “pelo S. João os bois beberem nas pegadas”, “…cobre o milho o rabo ao cão”.
Uma tradição leceira deste mês de Junho é a cascata, que nos traz à memória o deslumbramento da imaginação, da harmonia e da inocência do representar o quotidiano da nossa terra em pequenas figuras de barro compradas na feira da louça do senhor de Matosinhos.
A festa era tal que até se cantava:
S. João da Boa Nova. / Nós te qu’remos festejar! / E se queres uma prova, / A tradição se renova, / ‘Stamos na rua a cantar! / … Da nossa terra formosa, / Foste festa popular! /E desta forma amorosa, / Vem tua Leça briosa, / A tradição reatar.
As crianças na rua faziam uma pequena cascata, e por vezes só com um dos Santos na mão, pediam “um tostãozinho para a cascatinha”.
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Em Julho, já com o tempo mais quente, começava o ritual dos banhos, primeiro no rio Leça, com fundos lodosos perigosíssimos onde muitos jovens ficaram; mais tarde os banhos de mar tomados de manhã bem cedo e rápido porque o trabalho não esperava.
Em meados de Julho regavam-se os campos para o que se cavavam sulcos extensos de modo a conduzir a água.
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Com Agosto à porta surgem as romarias populares, e além das festividades anuais que cada freguesia ainda mantém, perduram as populares e tradicionais romarias, meio pagãs, meio religiosas, onde o povo dá largas à boa disposição.
Pertencem ao número dessas romarias a Santa Eufémia, no alto da Carriça, onde o nosso pai Moisés ia de bicicleta, comprar as alhos e a melancia; a Senhora do Bom Despacho na Maia, etc.
Espontaneamente, ou não, os romeiros juntavam-se em grupos, designados por rusgas e manhã cedo lá iam a pé cantando e dançando, regressando ao escurecer, já com os farnéis vazios.
Destas rusgas nasceu o Rancho Típico da Amorosa defensor e guardião das tradições leceiras que com os seus trajes tão bem conservados, cantares e dançares, mantém vivas não só as tradições leceiras mas também a alma do nosso povo. É um regalo vê-los actuar! Obrigado Raúl.
Durante muitos anos os nossos primos Henriqueta e Hermano Rocha alimentaram a tradição cuidando com toda a dedicação desta nossa tão nobre associação.
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Depois do árduo trabalho do campo durante o ano, chega Setembro com a verdadeira azáfama, pois é altura de trazer para casa o milho, outrora transportado em carros de bois, descarregando-o no coberto onde era desfolhado, o que constitui um cerimonial, pois se durante o dia era um trabalho silencioso à noite, ao serão, juntavam-se os rapazes das redondezas. Quando alguém encontrava uma espiga vermelha, “milho rei”, tinha licença para distribuir abraços à roda. Se for espiga “rajada” ou “entremeada”, em vez de abraços à roda, são beijos. Os donos da casa ofereciam pão, vinho, e azeitonas, aparecendo quem tocasse, a gente jovem não resistia à tentação de dançar.
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Em Outubro com os trabalhos já encaminhados e o inverno a aproximar-se vamos referir uma outra tradição leceira, que naturalmente desapareceu; referimo-nos às lavadeiras de Leça, que no braço doce do rio lavavam a roupa de sua casa e a de muitas famílias inglesas que à época aqui habitavam, constituía um ritual não só pelo trabalho mas também pelo aspecto social, pois permitia pôr em dia as notícias sobre a vizinhança com o desmascarar de alguns “segredos” e o levantar de alguns boatos! Era uma coscuvilhice! Claro que nos encontros com as mulheres da outra margem do Leça, por vezes as conversas azedavam, ao ponto de chegarem a vias de facto.
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Novembro começa com a homenagem aos finados e aqui, por muito que nos custe, vamos falar dos enterros.
Assim, quando morria alguém “tocava o sino a sinal” por duas vezes se era mulher e três vezes se era homem.
O corpo é lavado. Se é homem faz-se-lha a barba, isto é o barbeiro dá-lhe uma “escanhoadela” e é vestido. Posto no caixão procede-se ao velório durante o qual se juntam familiares e amigos, sendo habitual à noite servir café e aguardente.
Á hora de sair o enterro o padre procede ao “levantar do corpo” organizando-se o cortejo fúnebre, à frente a cruz e dois acompanhantes aos guiões ou às borlas, serviço em que ganhámos alguns cobres conjuntamente com os nossos amigos Valdemar e Tito ao serviço do Sr. Silva Armador. A seguir o padre com o rapaz da caldeirinha e atrás do caixão os acompanhantes, familiares e amigos transportando palmas de flores e coroas.
Ainda em Novembro surgiam os vendedores de castanhas que as assavam no forno do padeiro, após o que as punham num saco de serapilheira, cuja boca fumegava, e percorriam as ruas de Leça apregoando: “Quentes e boas! São da quinta da minha avó”!
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Em Dezembro, já com frio, e com um cerimonial festivo fazia-se a “matança do porco”. O animal engordado durante o ano, é amarrado a um banco ou a um carro de bois e morto, depois era chamuscado e lavado, aberto e desmanchado.
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Neste último mês temos ainda o Natal, o qual deixaremos para uma crónica específica em tempo oportuno.
Haveria muitas outras tradições a referir porém este nosso escrito já vai longo. Deixaremos para outras oportunidades."

Eng.º Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 4 - Junho de 2008


"Dunas"

Tema da banda G.N.R. dedicado à praia de Leça da Palmeira


07/01/2012

TRABALHADORES DO COMÉRCIO
BIOGRAFIA
Em 1979, Sérgio Castro e Álvaro Azevedo (membros dos Arte & Ofício) dão corpo a um projecto paralelo a que chamam Trabalhadores do Comércio.
A característica principal do grupo era o facto de cantar em português, com sotaque à moda do Porto, enquanto os Arte & Ofício construíram toda a sua carreira cantando em inglês. Também havia a questão das letras das músicas, que tinham um certo humor.
O seu disco de estreia, editado em 1980, foi o single intitulado "Lima 5" (1), cujo refrão rezava: "Eu só paro lá no Lima 5, Sou um meu de grabatinha e brinco". A voz do grupo era a do sobrinho de Sérgio Castro, João Luís Médicis, então com 7 anos.
O grupo faz algumas primeiras partes dos Arte & Ofício e edita um novo single: "A Cançõm Quiu Abô Minsinoue" (traduzindo: A Canção Que o Avô Me Ensinou).
O primeiro álbum "Tripas à Moda Do Porto" foi gravado em Londres e contém o tema mais conhecido da banda: "Chamem A Polícia". Outros temas, onde o humor tem lugar marcado são "Atom Messiu, Comantalê Bu" ou "Paunka Roque", para além de "Birinha", "Sim, Soue Um Gaijo do Pôrto" e "Quem Dera".
O grupo toca muito num Bar do Porto chamado Chico's e tenta a edição de um EP "Alaibe At Chico's Bar" que nunca verá a luz do dia.
Em 1982 é editado o segundo LP, "Na Braza", que não conseguiu penetrar no grande público e o grupo suspende as suas actividades.(2) Temas deste disco são "Haxixa na Braza" e "Taquetinho Ou Lebas No Fucinho".
Em 1986, os Trabalhadores concorrem ao Festival RTP da Canção com o tema "Os Tigres De Bengala", que se classificaria em segundo lugar. Esta classificação faz reacender a vontade de voltar a gravar um novo disco. (3)
Sérgio Castro, que entretanto se mudara para Vigo (Galiza), onde se dedica à produção de grupos no seu próprio estúdio Planta Sónica, reagrupa a banda e grava "Mais Um Membro Para A Europa" [uma edição Tigres de Bengala] que inclui uma versão dum tema de Adamo, a que os Trabalhadores do Comércio deram o nome de "Molharei La Farture Dans Ta Tasse Chaude".
Depois de uma paragem de 4 anos o grupo volta a ressurgir em 1990, com João Luís Médicis já contando 17 anos e tocando baixo, e grava o disco "Sermões A Todo O Rebanho" que inclui os temas "Aim Beck USA", "Omo Sexual", "O Boto Útil (com Essa Nos Bais Fadando)", "Quem Toca Assim Num É Manco" (um solo de bateria de Azevedo) e uma versão de "Sex and Drugs and Rock'N' Roll" de Ian Dury justamente intitulada "Fado, Sexo e Vacalhau".
Novamente o humor a ser a imagem de marca dos Trabalhadores do Comércio, que veriam editado, em 1996 um CD-Duplo intitulado "O Milhor Dos Trabalhadores Do Comércio", que inclui um "Bónus Traque" de uma gravação renovada de "Chamem A Pulíssia".
Esporádicamente o grupo tem-se reunido para fazer espectáculos, sobretudo na sua cidade natal.(4)
ARISTIDES DUARTE / NOVA GUARDA
Nós tocámos aqui [na Galiza] em 1981, num festival, e tivemos como grupo de suporte os Siniestro Total, que estavam a começar. Depois disso, soubemos que havia grupos galegos a fazer versões do «Chamem a Polícia». Voltámos à Galiza em 1982, para outro festival, e em 1986, naquelas manifestações do irmamento Vigo-Porto, logo depois da entrada dos dois países na CEE. O grupo tinha uma certa aceitação e as pessoas também me conhecem, particularmente, porque estive nos Sémen Up, um grupo bastante importante a nível regional e nacional. Fui produtor desse grupo [no projecto paralelo Bombeiros Voluntários] em dois discos de «soul music» muito conhecido por aqui, que eram os Bombeiros Voluntários, e quando se referiam a mim, diziam que eu tinha sido o cantor dos Trabalhadores do Comércio.
Foram várias coisas [que levaram ao fim do grupo], mas é um bocado difícil estar a analisar isso agora. Na altura, eu não pensava nos mesmos termos em que faço hoje. Umas das coisas que nos fez acabar, em 1982, foi alguma preocupação em relação ao futuro, principalmente do João, que começava a atravessar uma fase crítica da sua vida. Quando ele voltou a mostrar interesse por isto, nós fizemos aquela brincadeira em 1986/1987, quando gravámos mais um álbum e fomos ao Festival da Canção. Aí, já havia outra dificuldades, pois eu e o Álvaro já estávamos aqui em Espanha, a montar o estúdio de gravação; o disco de 1990, «Sermão a Todo o Rebanho», foi mais uma brincadeira minha e do João, do que um disco dos TdC. Mas a verdade é que eu, de vez em quando, torno-me extremamente consciente de que começo a meter nojo, para pôr as coisas em português corrente. Há tipos com uma lata bestial, que são capazes de andar vinte anos a fazer a mesma coisa, a sacar a nota que aquilo vai andando. Se as pessoas receberem esta colectânea de uma forma positiva, até podemos vir a gravar um disco de originais lá para o fim do ano, como está previsto pela Polygram; mas também podemos chegar à conclusão de que estamos cansados desta história, que já não temos mais nada para contar. O que ninguém nos pode tirar é o gozo que temos, neste momento, em tocar ao vivo.
ENTREVISTA DE JORGE MANUEL LOPES A SÉRGIO CASTRO / BLITZ (1996)
(1) O single  "Lima 5", lançado pela independente Rádio Produções Europa, viria a ganhar o prémio de popularidade da revista TV Guia. A Rádio Produções Europa também publicou o disco "Marijuana" dos Arte & Ofício.
(2) Nesse ano o grupo decide interromper as actividades pelo facto do jovem cantor João ter entrado numa fase mais exigente da sua vida escolar. António Garcez e Sérgio Castro formaram, em 1984, os Stick que chegam a gravar o máxi-single "Como Um Herói" (1984) e o single "Olhos Nos Olhos/Nunca Mais" (1985).
(3) O convite para participar no festival surgiu da parte do Centro de Produção do Porto da RTP. Em 1986 ainda prepararam um novo LP, mas não chegaram a gravar. (em Pública)
(4) Juntam-se em 1998 para participar no Festival Roma Mega Rock. Em Setembro de 2002 tocaram em Vigo e Porto.  Álvaro Azevedo disse ao JN que várias  pessoas ligadas a editoras têm sugerido que se juntem outra vez. Porém, a vida particular não o permite, Sérgio vive em Vigo e João Luís em Inglaterra, mas sempre que haja oportunidade estão disponíveis para tocar.
Comemoraram os seus 25 anos com a inauguração da sua página na internet. Retomaram a sua actividade e em Maio de 2007 lançaram o álbum "Iblussom".
DISCOGRAFIA
Tripas à Moda Do Porto (LP, PolyGram, 1981) Na Braza (LP, Polygram, 1982) Mais Um Membro P'ra Europa (LP, TDB, 1986) Trabalhadores do Comércio (Compilação, Polygram, 1989) Sermões a Todo o Rebanho (LP, PolyGram, 1990) O Milhor dos Trabalhadores do Comércio (Compilação, PolyGram, 1996) Iblussom (2CD, Farol/TDB, 2007)
SINGLES
Lima 5/Que Me Dizes Au Cuncurso (Single, Rádio Produções Europa, 1980) A Cançõm Quiu Abô Minsinoue/A Chabala do Meu Curaçom/ (Single, Gira, 1980) Chamem a Policia/Sou Um Gajo do Porto (Single, Gira, 1981) pirata Chamem a Policia (Single, Polygram, 1981) Alaibe et Chico´s Bar (EP inédito, 1981) Os Tigres de Bengala S. F. R./No Baile de S. Bento (da Bitória)(Single, Transmédia, 1986) Chamem A Pulissia/Nel Ligeiro (Single, Polygram, 1996) Taquetinho Ou Lebas Nu Fucinhu (Single, Polygram, 1996) Febras  (Single, TDB, 2006)
COMPILAÇÕES SE
O Melhor de 2 - Trabalhadores do Comércio/Da Vinci (Compilação, Universal, 2001)
NO RASTO DE...
Sérgio Castro vive em Vigo onde  se dedica à sua empresa de material acústico. Participou no disco "Rio Abaixo" de António Garcez.
Álvaro Azevedo dedica-se à exploração de um bar-discoteca no Porto ("Estado Novo").
No início da década de 90, João Luís Médicis chegou a tocar baixo com os Pippermint Twist. Tirou o curso de Computação e Matemática. Depois esteve alguns anos em Londres a trabalhar. Regressou ao Porto onde é consultador mas dedicando mais tempo à música.
Miguel Cerqueira formou os Pippermint Twist. Trabalha na RTP-Porto.
Jorge Filipe voltou a tocar com o grupo em algumas das últimas aparições ao vivo dos TdC.

"Lima 5"





"A casa foi fundada no histórico dia 25 de Abril de 1974, por 5 sócios, aqui no até então conhecido como o Estádio do Lima. Estádio outrora retratado no clássico filme português “O Leão da Estrela”.
O nome Lima associado ao número de Sócios – na sociedade inicial - deu origem ao conhecido nome Lima 5, que se tornou referência geográfica reconhecida por todos os Portuenses.
Teve início com as actividades de Pastelaria/Salão de Chá, restaurante, garrafeira e frutaria. Em 2008 foi adquirido seu actual proprietário, conhecedor e cliente de longa data, mantendo o bom nível, pelo qual sempre foi conhecido este espaço, bem como a sua gerência Sr. Carlos Carvalho e demais funcionários, com mais de 20 anos de casa."